Como a Gestão da Qualidade poderia ter prevenido mortes nos casos recentes de intoxicação por metanol
- Rede Metrológica
- há 3 dias
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A gestão da qualidade para garantir a confiança dos consumidores é uma questão urgente
Nas últimas semanas, o Brasil foi abalado por uma série de notícias inesperadas. Pessoas em diferentes estados, como São Paulo, Paraná e outros, foram vítimas de intoxicação por metanol após consumirem bebidas alcoólicas adulteradas. A consequência desse descaso ocasionou mortes e sequelas graves, como cegueira permanente.
Esses casos recentes trazem à tona uma questão: como podemos garantir a segurança das bebidas que consumimos? Por que falhas na produção e na cadeia de distribuição podem ter consequências tão fatais? A resposta para prevenir essas tragédias está, em grande parte, na gestão da qualidade.
O que é o metanol e por que ele é perigoso para o nosso organismo?
O metanol é um tipo de álcool extremamente tóxico para o corpo humano. Ele não tem gosto nem cheiro diferente do etanol (o álcool comum das bebidas), o que o torna uma ameaça quase indetectável. Sua ingestão causa intoxicação grave e rápida, levando a sintomas como dor de cabeça, visão turva, náuseas e, nos casos mais sérios, cegueira, convulsões e morte.
A contaminação por metanol geralmente acontece em bebidas de baixo custo, falsificadas ou produzidas de forma ilegal, onde os criminosos usam a substância para baratear o produto. No entanto, erros em processos de destilação de pequenas e médias empresas também podem gerar essa contaminação.
A gestão da qualidade
Para empresas que operam de forma legal e responsável, a gestão da qualidade é o alicerce da segurança, e um sistema de controle bem estruturado é essencial para impedir que produtos contaminados cheguem ao mercado. Isso começa com o controle rigoroso das matérias-primas e dos fornecedores, por meio de exigência de certificados de análise, auditorias e avaliações periódicas, garantindo que insumos como o etanol sejam puros e estejam em conformidade com as normas.
Além disso, são implementados procedimentos operacionais padronizados em todas as etapas da produção, assegurando consistência e redução de falhas. Dentro da fábrica, o sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC) é utilizado para mapear os pontos críticos do processo onde há risco de contaminação, como na etapa de destilação, permitindo o monitoramento constante.
A qualidade também é verificada por meio de inspeções e análises químicas regulares, realizadas tanto na linha de produção quanto em amostras do lote final. Esses testes garantem que o produto está livre de substâncias nocivas antes de chegar ao consumidor. Todo o processo é apoiado por um sistema de rastreabilidade de lotes, que permite identificar a origem de qualquer problema, e pela manutenção de registros documentados, que assegura transparência, controle e responsabilidade em toda a cadeia produtiva.
O mercado clandestino
O mercado clandestino pode ser um dos responsáveis por esses casos de intoxicação, pois opera sem qualquer sistema de controle ou segurança. Nessas produções ilegais, há falhas graves no processo de destilação, frequentemente realizado de forma improvisada e sem parâmetros técnicos.
Além disso, as bebidas são adulteradas intencionalmente com substâncias tóxicas, como o metanol, para reduzir custos. Não há inspeções sanitárias, nem rastreabilidade dos lotes, o que impede a identificação da origem dos produtos e a retirada do mercado em caso de irregularidades. Para piorar, não são realizados ensaios laboratoriais confiáveis, deixando os consumidores completamente expostos a riscos invisíveis e potencialmente fatais.
Novas Perspectivas: UEPB desenvolve tecnologia para identificar metanol em bebidas
A lição mostra que a segurança do consumidor precisa ir além das portas da fábrica. Felizmente, a ciência brasileira está atenta a essa demanda. Um exemplo promissor vem da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), onde pesquisadores criaram uma tecnologia capaz de detectar bebidas adulteradas, que pode ser incorporada em um canudo. Essa inovação abre um novo capítulo na vigilância da segurança alimentar, oferecendo um método prático para que o próprio consumidor possa se proteger de riscos invisíveis, agindo como um complemento crucial às rigorosas práticas de gestão da qualidade nas indústrias.
Como a gestão da qualidade protege você e o que você pode fazer
A tragédia recente serve como um alerta. A gestão da qualidade não é apenas um selo ou um procedimento burocrático; é a garantia de que as marcas que você confia estão fazendo tudo para proteger sua saúde.
O que você pode fazer para se proteger:
Compre de fontes confiáveis: Sempre prefira comprar bebidas em estabelecimentos conhecidos e de marcas com reputação.
Desconfie de preços muito baixos: Se a oferta parece boa demais, pode ser um sinal de adulteração.
Fique de olho na embalagem: Garrafas e lacres violados, rótulos de baixa qualidade ou mal colados são sinais de que o produto pode ser falso.
Os casos recentes de metanol são uma prova de que a falta de gestão da qualidade pode ter um preço fatal. A confiança na marca é construída com segurança, e a responsabilidade de garantir essa segurança é um dever de todos os produtores, para que nunca mais tenhamos que lamentar a perda de vidas por um descuido que poderia ter sido evitado.
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